quarta-feira, 24 de junho de 2009

Obstáculos naturalistas ao conhecimento Sociológico. “Sex and Temperament em Tree primitives Societies” de Margaret Mead.


Os obstáculos Naturalistas ou biológicos são obstáculos epistemológicos que se dividem em duas correntes: teorias herderitaristas e Sociobiologia. Existem igualmente obstáculos de carácter individualista/psicologista, que não são mais do que uma tentativa em explicar os fenómenos sociais, gerais, através de atitudes psicológicas e assim, individuais, como é o caso do estudo de Margaret Mead “Sex and Temperement in tree primitives societies”.
Margaret Mead (1901-1978) é uma conhecida antropóloga americana da Filadélfia. O pai era professor académico na área da antropologia e a mãe era activista social e sociólogo. A formação académica de M. Mead é na área da Família. Teve como professores Francis Boas e Ruth Benedict que a convidaram para ser colaboradora.
“Coming of age in Samoa” (1928) é o tituloda tese de doutoramento de Mead. Apartir deste trabalho, passou a ser comum fazer-se trabalho de campo, principalmente em ilhas.
Mead foi para as ilhas Samoa (Papua-Nova Guiné) estudar os adolescentes e as suas oscilações comportamentais. A comparação entre as adolescentes (dos nove aos vinte anos) da Samoa com as adolescentes americanas fizeram-na verificar que os padrões de comportamento eram completamente distintos – as adolescentes da Samoa queriam atrasar ao máximo o casamento, mas tinham relações sexuais ocasionais, o que chocou a academia americana.
Darek Freemon Em “M. Mead: a construção e destruição de um mito antropológico” (1983) diz que estudo de Mead não tem qualquer fundamento, revelando-se um mito. Contudo, a comunidade académica levantou obstáculos a esta análise, questionando o porquê de só ter publicado o livro em 83, se já o tinha elaborado muito tempo antes (as entrevistas às adolescentes da Samoa foram novamente feitas, dizendo estas que tudo o que tinham dito tinha sido por mera brincadeira).
Após este estudo, estão abertas as portas para o “Sex and Temperament in Tree primitives Societies”. Este estudo é exemplificativo do processo de produção de conhecimentos que consiste na existência de matéria-prima (pré-noções; teorias existentes); que depois é sofre um processo de transformação (condições, métodos, aparelho teórico e conceptual) e que, por fim, chega ao produto final (nova teoria – esta quando refutada, origina um novo processo de produção de conhecimento).
“Sex and Temperament in Tree primitives Societies” parte de uma ideia em que há uma pré-disposição biológica do sexo (1920-30). Sendo um processo de produção de conhecimento, como matéria-prima tem dois elementos:
- Negativos: Considera as mulheres diferentes dos homens, dizendo que elas são frágeis, fracas, meigas e ao contrário, os homens são fracos e agressivos. Isto liga-se, deste modo, ao vietorianismo (as mulheres frágeis dedicam-se aos maridos e filhos que procururam adornos e futilidades).
- Positivos: o background familiar e social (avó paterna altamente progressista. Formação escolar em psicologia e em antropologia. “Crazy twenties” – mudanças consecutivas na sociedade norte-americana. Participação em tertúlias de mulheres. Movimentos das sufragistas (movimento que reivindica o direito de voto às mulheres).
“Sex and Temperament in Tree primitives Societies” tem como transformação três prossupostos:
- Condições materiais: não passa de financiamento que conseguiu através do seus professor Franz Boas
- Condições ideológicas: as suas teorizações já se baseavam em suposições. É o chamado corpo teórico.
- Métodos e técnicas: Trabalho de campo, observação directa com três comunidades de estudo.
Após estes dois passos no processo de produção de conhecimento, chega-se ao novo produto que não é mais do que um nova teorização, explicada pelos pressupostos antropológicos, mas também com base psicanalítica – “Sex and Temperament in Tree primitives Societies” (1935) estudo elaborado na Papua Nova Guiné em que se centram em três grupos étnicos:
- Arapesh
- Mundugmar
- Tchambuli
O trabalho de campo teve uma pergunta de partida, “Haverá uma relação necessária e obrigatória entre o sexo e o temperamento?”
Mead começou por caracterizar minuciosamente cada grupo concluído que:
- os Arapesh (Plácidos montanheses) era um povo pacifico, divisão social igualitária, divisão muito definida. O desmame das crianças era tardio e progressivo, por isso, as crianças era muito pacíficas, o que se iria reflectir na vida adulta. Viviam nas montanhas.
- os Mundugmar (Feroses Canibais) eram extremamente agressivos (mulheres e homens). Tudo era visto como uma luta constante. O verdadeiro líder é aquele que se revela realmente mau. Dedicam-se à caça de cabeças. Dado o desmame ser muito cedo e também agressivo, tornaram-se hostis em adultos. Vivem nas Planícies.
- os Tchambuli – as mulheres dominam a comunidade do ponto de vista económico, controlando a actividade piscatória. Os homens dedicam-se às artes (gostam de tocar flauta e à construção de adornos). Os homens compravam prisioneiros nas comunidades vizinhas e traziam as cabeças como prémios para as mulheres (que faziam de conta que acreditavam que eram provenientes de lutas). Davam muito mais atenção às raparigas do que aos rapazes que eram até relegados para segundo plano, o que fazia com que as mulheres tivessem a capacidade de liderança. Viviam em zonas marítimas.
Deste modo, Mead conclui o que ilustra o quadro:

Grupo

Agressividade e Temperamento
Homem Mulher
Ocidental
+
-
Arapash
-
-
Mundugamar
+
+
Tchambuli
-
+

Assim sendo, Mead considera que não há relação entre sexo e o temperamento.
Conclui-se assim que na teorização de Margarte Mead, numa prespectiva antropológica, o sexo e o temperamento variam conforme os padrões culturais. A forma de socialização da criança vai sempre influenciar a vida adulta, o que tem uma base explicativa de carácter psicanalista. Mead responde assim àquilo a que se tinha proposto.
Os sociólogos aceitaram os dados recolhidos por Mead já que o desenho da investigação foi bem feito – qualquer outro investigador pode usar os mesmo dados - , embora tivessem rejeitado a sua explicação, pois Mead saltou um obstáculo epistemológico (partiu de algo particular o que não pode ser trabalhado no domínio próprio).
“Sex and Temperament in Tree primitives Societies” vai ser estudado por Codson e Riddel (1970) em que abordam a obra com carácter antropológico de base materialista, mas cuja explicação qualquer cientista social é obrigado a rejeitar na medida em que os autores não leram a obra em questão, simplesmente limitaram-se a uma recolha de apontamentos.
Thomas Kuhn defende que este trabalho será bem ou mal aceite conforme o contexto da época. O senso comum aceita esta teoria desde que generalizado e familiarizado com a área cientifica e desde que as evidencias lhe pareçam lógicas. Por norma, aceita, assim, a nova tese – é chamada familiaridade com o social.

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