quarta-feira, 24 de junho de 2009

Obstáculos Naturalistas ao conhecimento Sociológico. Sociobiologia e a sua refutação Sociológica.


Os obstáculos Naturalistas ou biológicos são obstáculos epistemológicos. Existem igualmente obstáculos de carácter individualista/psicologista, que não é mais do que uma tentativa em explicar os fenómenos sociais, gerais, através de atitudes psicológicas e assim, individuais, como é o caso do estudo de Margaret Mead.
Os obstáculos naturalistas ou biológicos dividem-se em duas correntes: teorias herderitaristas e Sociobiologia.
A Sociobiologia nasceu em 1975 com “Sociobiology – The New Synthesis” tem como mentor Edward O. Wilson, professor americano da Universidade de Havard, especialista em microbiologia e doutorado em Filosofia. Há, contudo, antecedentes à Sociobiologia como a descoberta do gene por Mendel, a descoberta do ADN por Watson e a teoria da selecção natural de Darwin que é a base de sustentação da Sociobiologia.
“Sociobiology – The New Synthesis” faz-se compor por 3 grandes partes:
1) Fundamentos biológicos, fundamentação teórica-cientifica exclusiva na biologia e no comportamento dos animais e o altruísmo que é relegado para ultimo plano.
2) Comportamentos Sociais que os explica com base exclusiva na biologia.
3) Explicação Sociobiologia no quais começa por considerar os primatas não humanos, o principio da concorrência (os seres vivos estão sempre em concorrência que é perfeita) e o principio da selecção (processo egoísta e cego, ou seja, os menos aptos cedem lugar aos mais aptos).
O processo egoísta e cego é tido como o mais significativo na abordagem da Sociobiologia porque este quer garantir a sua sobrevivência e também a sua replicação.
Como se pode ver, a Sociobiologia não respeita a abordagem de produção cultural, o que é um elemento diferenciador das sociedades humanas da dos animais. A Sociobiologia pode confundir-se com a etologia, mas tal não pode acontecer porque a etologia estuda os comportamentos sociais dos animais, mas não atribui esses comportamentos ao ser humano.
Assim, pode-se definir como princípios da Sociobiologia que todo o comportamento do gene é egoísta e rege-se pelo princípio da selecção natural, no qual os genes mais fracos dão lugar aos genes mais fortes. Assim, tem que se criar boas condições para os genes terem a máxima reprodução possível.
A Sociobiologia vai usar esta ideia e vai utilizar exemplos de comportamento que não se enquadram nestes princípios. Esta estratégia segue o principio de passar pelos animais microorganicos para os animais primatas até as sociedades humanas.
Exemplo I – Xylocanis – Têm um comportamento que não tem lógica porque para a Sociobiologia todos os animais têm em vista a sua máxima replicação. O xylocanis é um animal que tem um comportamento homossexual e bissexual, o que, no primeiro caso, não há replicação. O pulgão tem uma concavidade e nas fêmeas é ai que se deposita o sémen do macho e quando machos violam machos depositam também ai o sémen para aumentar a concorrência.
Exemplo II – Malubis – o macho também tem um comportamento bissexual, este organismo vivo tem, aparentemente, um comportamento que é uma perda de tempo. Os machos têm uma glândula que a seguir à relação sexual fecha o órgão sexual, eliminando a concorrência porque assegura o órgão da fêmea quando esta tem relações sexuais com outros machos. O macho está a eliminar a concorrência, aumentando a possibilidade de replicar os seus genes.
Exemplo III – Abelhas – para além da concorrência também há o principio da selecção natural, onde os genes mais patos eliminam os mais fracos e para a Sociobiologia não faria sentido o gene ter princípios cegos, egoístas e concorrencial. As abelhas são estéreis e não visam a replicação, mas são elas que alimentam a rainha e esta consegue replica-se ao máximo. Consideram mais útil alimentar a rainha em vez de serem a replicar-se, fazem um sacrifício, mas para que a rainha consiga replicar-se. De forma indirecta conseguem a replicação dos seus genes.
Exemplo IV – Veados da Montanha – vivem em grupos que representam a família quando se aprocima o predador protegem a prol e a fêmea, emitindo sons para esta poder fugir, enquanto que o macho foge logo, não protegendo a prol. Neste caso, a partilha de genes é cara à fêmea e à sua prol e é, por isso, que a fêmea produz sons, para proteger a sua prol e assim conseguir a replicação de genes.
Exemplo V – Louva a deus – a fêmea mata o macho. A fêmea move-se mais que o macho e o macho coloca-se em cima da fêmea, mas como ela se movimenta mais, deixa-o cair e a fêmea corta-lhe a cabeça, não morrendo de imediato. Neste caso, houve este gene que conseguiu sobreviver, porque há uma espécie de compensação – na relação sexual, quando a fêmea decapita o macho, ele liberta o sémen e consegue aumentar a replicação dos seus genes.
Exemplo VI – Patos dos canaviais – Os patos vivem em grupo e esses grupos são constituídos por mais machos ou mais fêmeas, se bem que há, por norma, mais machos. Há um processo onde se estabelece uma hierarquia: os mais fortes são aqueles que encontram o seu par. Os machos que ficam sem fêmea “revoltam-se” e tentam violar as fêmeas dos outros machos. Esses machos que já têm fêmea protegem-na, lutando com o macho “solteiro”, porém, estes arranjam forma de garantir a replicação dos seus genes, o que os leva a juntarem-se todos para violarem as fêmeas, fazendo com que haja a fuga do macho mais forte. Quando os patos solteiros fogem, o pato da fêmea volta e também viola. Ele viola a parceira para se poder colocar em concorrência, querendo também depositar o seu sémen para os seus genes se reproduzirem.
Exemplo VII – Doença de Huntington (doença degenerativa) – os indivíduos não sobrevivem para além dos 30 anos. O gene vai acabar por matar o ser humano e não vai permitir a sua máxima replicação. Estes indivíduos têm uma tendência muito grande para a maximização das relações sexuais para possibilitar a reprodução de genes. Tal doença não é hereditária.
Após a enumeração destes exemplos, é necessário usar um que contradiz os outros. Os cucos quando nascem a primeira coisa que fazem é limpar o ninho e mesmo que haja outros ovos, estes são deitados para fora do ninho. É a mãe que tme que arranjar alimento mas, quando não consegue, ela sacrifica-se para garantir a vida dos cucos. Pergunta-se se isto não será altruísmo.
Há muitos mais exemplos. Começam pelos animais minúsculos até chegarem aos seres humanos. Wilson diz que estes princípios podem ser aplicados aos seres humanos: as sociedades humanas, seguindo a lógica sociobiológica, iriam originar uma conversão das normas sociais.
A Sociobiologia utiliza o princípio da selecção de grupo e da selecção de parentesco para dar exemplos das sociedades humanas.
No grupo existem elementos que se sacrificam em favor de todo o grupo, havendo como exemplo os cães da pradaria estes cães interagem em grupo e nesse grupo há o cão que vigia, tendo a função de avisar quando aparece um predador. Este cão é o ultimo a esconder-se. Esta é uma estrutura de selecção de grupo e parentesco, onde o cão que vigia sacrifica-se em favor de outros elementos do grupo porque ele sozinho tem mais genes que os outros elementos do grupo. Questiona-se se a explicação da Sociobiologia em relação ao cão de vigia é plausível, dizendo-se que é ilógico porque os cães não têm raciocínio matemático nem cientifico e, por isso, não sabem qual é o cão com mais ou menos genes.
É com base nesta explicação que a Sociobiologia demonstra a aplicação às sociedades humanas:
Exemplo I – pais e filhos (selecção de parentesco) – os pais tomam conta dos filhos e sacrificam-se por eles, tratando da criança até ela ser auto-suficiente. Esta é uma estratégia cega e individual. Quando a mãe se levanta a meio da noite para ver dos filhos só está a tomar conta de 50% dos seus genes, não está a ter um comportamento altruísta.
Exemplo II – organização e estratégia familiar (selecção de parentesco) – há uma questão de qualidade e quantidade. A qualidade tem a ver quando os pais estão a apostar numa criação de condições mais favoráveis. A quantidade é para garantir a máxima replicação dos genes ao ter muitos filhos. Os pais vão garantir condições para aos filhos e também poderão maximizar a replicação de genes.
Exemplo III – Nepotismo (cunha) (selecção de parentesco e grupo) – existem formas diferentes de encarar o nepotismo, dependendo da sociedade em questão. O individuo consegue arranjar emprego por favorecimento de alguém. Há, assim, uma intenção que varia de sociedade para sociedade. Nos EUA uma relevante percentagem dos jovens arranja emprego através da cunha. O problema é quando uma pessoa arranja emprego, mas não te qualidade para a função. Quando falamos de nepotismo, falamos de algo depreciativo (sentido pejorativo). É a cunha no mau sentido – é contratar um amigo sem saber como ele é em termos técnicos. Na Sociobiologia este tipo de favorecimento é um processo no qual o individuo (o beneficiado) venha a ter melhores condições para assim, quando as condições sociais são boas, consegue-se replicar o máximo de génese o individuo que é favorecido vai ter essas condições.
Exemplo IV – Infidelidade Masculina – a mulher, como tem que esperar 9 meses para garantir a replicação dos seus genes, a Sociobiologia diz que o homem não o tem que o fazer, ou seja, a estratégia do homem para replicar os seus genes é a infidelidade. Neste caso, não há que condenar a infidelidade masculina, pois es só é aceite quando a mulher está grávida.
Os conceitos de selecção de grupo e de parentesco foram abandonados porque não tinhas qualquer fundamento de consciência científica.

Esta teorização, a Sociobiologia, não pode ser considerada uma ciência e é tida como incentivos aos novos movimentos de extrema-direita.
Para a comunidade científica portuguesa, a Sociobiologia é considerada uma abordagem interessante do ponto de vista científico, mas com coisas sem lógica – Luís Archer foi desta opinião (reacção neutra). Germano Sacarrão é contra a a Sociobiologia, dizendo que é uma abordagem insultuosa, afastando-se qualquer abordagem científica (reacção violenta). O biólogo e etólogo Bracinho Vieira é mais radical, dizendo que a Sociobiologia não tem qualquer tipo de interesse (reacção generalizada).
Marchal Shkein em “Uses and Abuses of Biology” (1976) demonstrou que Wilson não conhecia tão bem as ciências sociais para reflectir sobre elas e criar uma “ciência” com base numa.
O grande problema da Sociobiologia é a explicação do comportamento altruísta.
Nas sociedades humanas, a Sociobiologia não consegue explicar o comportamento altruísta, como por exemplo, a adopção e o apadrinhamento – como é que se explica que um indivíduo tome conta de um organismo de quem não partilha nenhum gene e sacrifica-se por ele. Quer-se com sito dizer que se rejeita logo os princípios da Sociobiologia.
A questão da homossexualidade também está relacionada com o altruísmo e com o princípio da selecção de grupo. A homossexualidade resulta de determinado gene não orientado sexualmente. Esses indivíduos têm características divergentes ou excepcionais e que se dedicam ao bem-estar dos restantes.
Outra questão é o aborto (espontâneo – a existência de um gene mata outro - ou provocado – a vontade do individuo em não se querer reproduzir), a que propósito é que um gene interrompe o processo de reprodução? A Sociobiologia não encontra explicação.
Outros exemplos reportam-se a comunidades, como por exemplo, Os argonautas do pacífico sul – os Malinovki (comunidade piscatória). Os homens ficam fora cerca de dois anos e quando voltam as mulheres estão grávidas ou já existem crianças – os homens ficam felizes, pois as gravidezes e as crianças são produto de intervenção divina. Não há laços sanguíneos, mas são filhos daqueles pais, logo os princípios da Sociobiologia não se aplicam.
Existem ainda os grupos da Polinésia nos quais não é permitido o infanticídio do primogénito. Quando tinham o primeiro filho, esse era entregue aos Deuses, pois acreditavam que se não o fizessem algo de grave poderia acontecer nas suas vidas. É a chamada crença ritualizada.
Nas sociedades humanas, são dados como exemplos outros grupos que não refutam tão bem a Sociobiologia. É o caso do casamento nilótico ou fantasma que acontece no Sudão. Se numa família não nascerem homens, não há, como é lógico, a continuidade da linhagem, então, dentro do grupo de raparigas, a mais velha para dar continuidade, arranja um amante de forma a ter filhos. O amante tem que abdicar dos filhos em função do “fantasma”.
Wilson tinha ainda o objectivo de mostrar que a Sociobiologia era capaz de explicar todos os comportamentos animais e aplica-las nas humanas. Algumas explicações fazem sentido mas começam a incomodar a comunidade científica. A Sociobiologia é uma teorização construída de base, podendo-se comparar com o “Fim da História”.
Quanto às teorias herditaristas (século XIX-XX), existem três como as mais conhecidas:
- teoria racial da História de Gobineau que consiste na existência de várias raças com mais capaciadade do que outras. A raça branca é considerada a mais capaz na medida em que criou as mais importantes civilizações (Império grego e romano).
- teoria da selecção social de Amor e de Lapouge que consiste na presença de raças superiores em fortes zonas históricas de conquista.
- teoria eugénica de base biométrica de Galton
- teoria selectiva do fundo racial superiores de Huntington que não é mais do que uma visão actualizada de todas as outras anteriores. Diz que as migrações demonstram um processo selectivo, sendo que os mais capazes são os que triunfam.
Conclui-se assim que qualquer que seja o obstáculo naturalista, é necessário rigor na sua análise e nos seus pressupostos, na medida em que é perigoso fazer-se comparações entre princípios biológicos e etnológicos (exclusivamente aplicados ao mundo animal) e definir igualmente que existem raças humanas que tendem a ser superiores a outras.

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